Samuel Affonso Advogado

Quem dirige moto no trabalho tem direito ao adicional de periculosidade?

Para o direito trabalhista brasileiro, a segurança é prioridade

Especialmente para aqueles que desempenham funções que envolvem riscos inerentes.

Nesse sentido, quem trabalha dirigindo motocicleta como parte de suas atividades laborais inevitavelmente se expõe a situações de risco com grande frequência.

Diante desse cenário, a questão do adicional de periculosidade ainda gera muitas dúvidas em quem trabalha nessas condições. Afinal, será que todo aquele que dirige motocicleta durante o trabalho tem direito a esse adicional?

Neste artigo, vamos responder a essa pergunta, abordando:

  • O que é o adicional de periculosidade
  • Como é definido o valor
  • Quem tem direito
  • Como o trabalhador pode buscar seus direitos na Justiça

Conteúdo

  1. O que é o adicional de periculosidade?
  2. Qual o valor do adicional de periculosidade?
  3. Quem dirige moto no trabalho tem direito a esse adicional?
  4. Como buscar o adicional de periculosidade na Justiça?
  5. Conclusão

O que é o adicional de periculosidade?

O adicional de periculosidade é um direito que visa compensar os trabalhadores que estão expostos a atividades que apresentam risco à sua integridade física e segurança.

As atividades que envolvem a manipulação de produtos inflamáveis, explosivos ou, no caso em questão, a condução de motocicletas durante o trabalho, via de regra, são consideradas perigosas e, portanto, elegíveis para esse adicional.

Qual o valor do adicional de periculosidade?

De acordo com a CLT, o adicional de periculosidade é de 30% sobre o salário-base do trabalhador — ou seja, aquele anotado na carteira de trabalho.

Exemplo: se o trabalhador recebe R$ 2.000,00 de salário-base, o adicional será de R$ 600,00 por mês.

Esse valor impacta outras verbas trabalhistas, como:

  • Horas extras
  • Décimo terceiro salário
  • Férias
  • FGTS

Com o adicional, o décimo terceiro, por exemplo, passaria de R$ 2.000,00 para R$ 2.600,00. Já as férias com 1/3 passariam de R$ 2.666,66 para R$ 3.466,65.

Quem dirige moto no trabalho tem direito a esse adicional?

Sim, trabalhadores que utilizam motocicletas no exercício de suas funções, expostos ao trânsito e às suas consequências, têm direito ao adicional de periculosidade.

No entanto, para ter direito ao adicional, é necessário que:

  • Os deslocamentos sejam em vias públicas
  • O uso da motocicleta esteja inserido na rotina do trabalho

Exemplos de profissionais que têm direito:

  • Motoboys
  • Entregadores
  • Técnicos que visitam clientes usando motocicleta

Decisões judiciais relevantes:

Montador de móveis com uso habitual de motocicleta:
“Restando provado que era indispensável ao autor a utilização frequente de motocicleta para o seu deslocamento entre clientes, é devido o adicional de periculosidade, nos termos do art. 193, § 4º, da CLT.”
(TRT 18ª Região – RO-0010769-83.2017.5.18.0054 – 03/10/2018)
Uso diário de motocicleta no serviço:
“São consideradas perigosas as atividades de trabalhador em motocicleta. Restando provado o uso diário, faz jus ao adicional.”
(TRT-18 – ROT: 0010338-63.2021.5.18.0004 – 22/09/2022)
Motoboy:
“O empregado faz jus ao adicional de periculosidade pelo simples exercício da profissão com uso de motocicleta, independentemente de perícia.”
(TRT-9 – ROT: 0001513-73.2022.5.09.0028 – 13/03/2024)

Por outro lado, não têm direito ao adicional:

  • Quem usa moto esporadicamente
  • Quem circula apenas em vias privadas (ex.: ronda em condomínio)
  • Quem utiliza moto apenas para ida e volta do trabalho

Como buscar o adicional de periculosidade na Justiça?

Se o empregador não paga o adicional de forma voluntária, o trabalhador pode entrar com ação na Justiça do Trabalho.

É possível solicitar o pagamento retroativo dos últimos cinco anos, e os valores podem ser significativos.

Para isso, recomenda-se:

  1. Buscar orientação de um advogado trabalhista
  2. Reunir provas (testemunhas, recibos, registros)
  3. Ingressar com o processo judicial

Conclusão

O adicional de periculosidade, no valor de 30% sobre o salário-base, é um direito garantido a quem se expõe a riscos, como é o caso dos trabalhadores que utilizam motocicleta no desempenho de suas funções.

Desde que a atividade seja rotineira e em vias públicas, o direito é claro e pode ser exigido na Justiça, se necessário.

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